Num canto de Petersburgo um homem está retirado em seu subsolo. Ali, pretende manter-se na solidão e definhar. Definhar de propósito, de raiva. Sua mente está repleta de ideias paradoxais, que se chocam como nuvens e trovejam enraivecidas. Com papel em branco a sua frente, ele pretende lançar os raios desta tempestade psíquica sobre a terra. Investe contra o Racionalismo de sua época, assim como a falta de razão; contra a ciência e a superstição; contra todos e contra si mesmo.
Escrita em 1864, a novela Memórias do Subsolo representa uma nova etapa da obra de Fiódor Dostoievski. Ela é considerada sua primeira grande obra após ter retornado da sua pena de quatro anos de trabalhos forçados, na Sibéria. Dostoievski escreveu este livro numa crítica situação financeira, além de vivenciar momentos difíceis de sua esposa que sofria de tuberculose. No início de sua publicação, a novela não fez sucesso, recebendo duras críticas e interpretações errôneas. Como diz Boris Schnaiderman no prefácio desta edição “Tem-se assim um exemplo bem claro de como os contemporâneos muitas vezes são os piores interpretes de uma obra”.
Esta novela é inquietante e nos faz pensar. Lendo-a, conseguimos refletir sobre nossa condição humana, principalmente sobre a psique humana. Por mais que a leitura possa ser pesada, o leitor tem a oportunidade de ver o reflexo de uma época marcada pelo cientificismo. E o quanto este último afeta o ser do “subsolo”.
Por fim, indico este livro de Dostoievski editado pela 34, e não outra. Isto porque, a Editora 34 tem um carinho e um zelo extraordinário por transmitir obras estrangeiras para a língua portuguesa da forma mais fiel possível. Ou seja, traduzir a obra da sua língua original, neste caso, o russo. Feita por Boris Schnaiderman, esta tradução merece os parabéns (assim como merece a editora) por trazer às nossas livrarias e bibliotecas a alma deste mestre russo.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Memórias do Subsolo – Fiódor Dostoiévski (Dicas de Livros)
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