- Como andam aqueles problemas que te atormentavam?
- Estão bem melhores. Sendo tratados agora! Comecei a fazer psicanálise este ano.
O diálogo acima não foi tirado de uma situação real. Contudo, o termo em negrito, neste contexto, expressa a visão geral do público leigo. Ou seja, Psicanálise como uma forma de tratamento psicológico, caracterizado pelo deitar do paciente no divã e as freqüentes sessões, variando de três à cinco por semana.
Porém, o termo Psicanálise é muito mais abrangente. Ele tem uma história e é polissêmico. Portanto, apresentarei seu conceito integral. Comecemos com sua origem.
1. Origem do termo
A Psicanálise tem seu início com a publicação de “Estudos sobre a Histeria” de Freud e Breuer, em 1895. Mesmo assim, o termo só foi empregado publicamente pela primeira vez em 1896 no artigo de Freud intitulado “A Hereditariedade e Etiologia das Neuroses”, escrito em francês. Dessa forma, o termo aparece originalmente como psycho-analyse. Antes de usá-lo, ele havia utilizado outros termos análogos, como análise e análise psíquica.
Vejamos o pequeno trecho no qual ele usa pela primeira vez o termo:
“[...]Devo meus resultados a um novo método de psicanálise, o procedimento exploratório de Josef Breuer; é um pouco intrincado, mas insubstituível, tal a fertilidade que tem demonstrado para lançar luz sobre os obscuros caminhos da ideação inconsciente.”
2. Análise Morfológica do Termo
Como vimos acima, o termo original do francês carrega dois elementos “psycho” e “analyse”. Assim o é com o termo da língua portuguesa “psic(o)” e “análise”. Analisemos estes dois elementos.
- Psic(o) – este antepositivo vem do grego psukh(o) que significa “sopro da vida”, “alma”, “espírito”. Este último com a conotação de “atividade mental, princípio pensante”.
- Análise – este substantivo significa “separar as partes de um todo para que se possa melhor estudá-lo e compreendê-lo”.
Então, o que é Psicanálise segundo esta nossa análise? Podemos definir como a divisão e separação dos elementos do psiquismo, ou seja, da mente humana, para melhor compreender sua estrutura e consequentemente, seu funcionamento.
Freud, em certo artigo, explicou o porque dele ter usado o termo “análise”. Comparando com a química, o sintoma de um paciente (seja uma cegueira histérica, fobia, etc.) são formações altamente complexas, tal como uma substância da natureza. Assim como o químico pode decompô-la em elementos, o psicanalista pode ensinar seu paciente à ver o seu sintoma como uma composição estruturada de elementos, os quais Freud chama de moções pulsionais ou motivos. O paciente nada sabe destes elementos, pois ele vê o sintoma como um todo. Porém, ao encontrar estes elementos que compõe o todo, seus sintomas irão amenizar.
3. Definições de Freud
Vamos compreender todas as definições de Psicanálise dando à palavra ao seu fundador. O trecho abaixo foi retirado do artigo “Dois Verbetes de Enciclopédia” de 1922:
“Psicanálise é o nome:
(1) De um procedimento para a investigação de processos mentais que, de outra forma, são praticamente inacessíveis.
(2) De um método baseado nessa investigação para o tratamento de distúrbios neurológicos.
(3) De uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio a que se somam umas às outras para formarem progressivamente uma nova disciplina científica.”
Para ficar mais claro, vamos esclarecer cada um dos conceitos:
I – Psicanálise é uma técnica de investigação do psiquismo que tem como foco descobrir os significados inconscientes dos comportamentos, das falas, dos sonhos, das fantasias, de um indivíduo. O principal método é a associação livre (expressar todos os pensamentos que vierem à cabeça, sem nenhuma censura) do sujeito que está sendo analisado e das interpretações do analista. Porém, é possível desvendar estes significados inconscientes de uma produção humana, onde não há associação livre. Por exemplo, em produções artísticas, como pinturas ou filmes.
II – Psicanálise é um método psicoterapêutico baseado nesta técnica, buscando interpretar o que o sujeito trás pela associação livre. Este é o conceito o qual a maioria das pessoas compreende como sendo o único para Psicanálise. Vemos agora que, em si, ele é bem mais amplo do que uma simples forma de tratamento psicológico.
III – Psicanálise é um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas reunidas em uma estrutura e descobertas tanto pela técnica quanto pelo método psicoterápico. A esse conjunto de teorias Freud deu o nome de metapsicologia. Este conceito será abordado com mais detalhes em um outro momento.
4. Psicanálise é uma ciência?
Por fim, gostaria de responder esta pergunta. Como vimos acima, a técnica psicanalítica não consiste no “achômetro”, em chutar o que pode ser os significados inconscientes de uma pessoa. Tão pouco ela vê o inconsciente como uma coisa isolada, pois, se fosse assim, teríamos que entrar na mente da pessoa para descobrir algo que nem ela tem acesso consciente. Vimos que o inconsciente se manifesta em comportamentos, sonhos, palavras e outras coisas que podem ser percebidas, porém, aparece de forma disfarçada. Então, assim como a Psicologia é uma ciência, a Psicanálise também é uma ciência, por se basear em conteúdos que podem ser percebidos. E é possível estudar estes conteúdos (comportamentos, sonhos, etc.) e construir um corpo teórico (metapsicologia) e uma prática (técnica de investigação).
E mais: a Psicanálise não procura explicar tudo sobre a mente das pessoas. Ela tem um campo de atuação delimitado, como toda a ciência. A teoria do inconsciente em Psicanálise é extremamente vasta e plausível, o que outras escolas da Psicologia não conseguiram explorar com tanta profundidade. Assim como o estudo da atenção é mais trabalhado e compreendido amplamente pela Psicologia Cognitiva; campo que a Psicanálise não se atem de forma complexa.
Referência Imagem - Geopoliticus Child Watching the Birth of the New Man(Salvador Dali)
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