Em nossa vida urbana, estamos em contato com aquilo que é familiar. As ruas que passamos para ir ao trabalho, as pessoas que convivemos, a cidade onde moramos. É por isso que a floresta simboliza – entre outras coisas – a fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Ela é misteriosa, enigmática, esfíngica. E exatamente por este motivo, projetamos as mais diversas fantasias neste local: pode ser tanto um lugar sagrado, habitado por anjos e espíritos; quanto um centro abominável no mundo, com demônios e bestas selvagens.
A floresta também simboliza um espaço de refugio da corrupção do homem em sociedade. É exatamente isto que os eremitas e ascéticos buscam, no encontro com a natureza pura. Só assim torna-se possível o desenvolvimento espiritual.
Por ser úmida, terrosa e escura, semelhante ao útero, a floresta era compreendida na antiguidade como o princípio feminino. Não é a toa que o compositor Richard Wagner, em sua última obra “Parsifal”, expressa esta poderosa metáfora. Nesta ópera, a mãe do herói leva-o aos confins de uma floresta. Ali, passa a criá-lo, para que não aprenda a arte da guerra e, desse modo, não se torne adulto.
Lembremos também da história de João e Maria. As duas crianças são abandonadas e se perdem em uma floresta. Encontram uma casa de doces – que servia de armadilha para a bruxa atrair crianças – e não resistem a tentação. Passam por grandes apuros. Mas, somente com a astúcia e o autocontrole conseguem se verem livres daquele mal e encontrarem o caminho de volta para casa. Assim, a floresta também representa uma iniciação, um rito de passagem, de autodesenvolvimento. Toda a vez que passamos por uma crise – a menor que seja – simbolicamente ficamos perdidos e abandonados em uma densa floresta. Cabe a nós encontramos o caminho de retorno à morada interna.
Referência Imagem: Chapeuzinho Vermelho – Klever Yuliy
Nenhum comentário:
Postar um comentário