“Mas será que dá para filosofar sobre uma coisa tão comum como a dança?”
Claro que sim!
“E qual é a graça de refletir sobre uma coisa que deveria nos divertir; que deveríamos curtir ao invés de ficar pensado sobre?”
Olha... tem toda a graça do mundo!
Compreendamos a filosofia como o olhar de uma criança ingênua no mundo. Tomamos aquilo que é familiar e simples para nós – a dança, por exemplo – como algo novo e não familiar. Tiramos os preconceitos e vemos aquilo como se fosse pela primeira vez.
Então, o que é familiar quando dançamos? É, por um lado, saber que é bom dançar e prazeroso. Que seguimos o ritmo da música... que “dançamos conforme a música”. Sentimos que dançar liberta, que nos faz esquecer os problemas quando vamos para a noite. Que nos faz curtir.
Essa é a dança familiar.
Agora, e se deixarmos de lado essas explicações e olharmos pela primeira vez a dança? O que ela pode ser?
Vejo uma possibilidade. Dançar é tocar uma música muda, sem som. É tocar a música pelo corpo. Quando dançamos, expressamos a música de forma diferente. Talvez nunca tenhamos percebido essa música sem som, que se dá pelo movimento. Ou até tenhamos percebido, mas não ido muito além disto.
Quando digo que dançar é tocar uma música sem som – ou seja, uma música que é diferente da música que estamos escutando – ao mesmo tempo digo que dançar é reinventar essa música que ouvimos. Reinventamos no momento em que a criamos no corpo. Não deixamos de sermos artistas quando vamos à um show.
E é aí que está a graça de irmos para a noite com esses novos olhos: aquela única música que escutamos se transforma em centenas de outras completamente novas na pista de dança. Cada um está reinventando aquela canção. Não importa se o dançar do outro (ou o meu próprio) é ridículo; dançando sem tirar os pés do chão ou se chacoalhando freneticamente. É uma nova música na pista. É uma música que ninguém poderia fazer além de nós. Pois é o nosso corpo e o nosso movimento.
Qual é a moral de pensarmos desse outro jeito a dança?
Simplesmente porque ao entendermos o mundo de uma outra maneira, o próprio mundo vai se mostrar de uma nova maneira. E ele se mostrando de uma nova maneira, iremos senti-lo de uma nova maneira. Iremos curtir o mundo de um modo diferente.
Sabendo que minha dança é um tocar a música completamente novo e meu, conseguimos deixar de lado a vergonha. Na noite, não é importante saber se estamos dançando bem ou dançando ridículo. Não é saber coisa alguma! É sentir a música que inventamos.
É isso que chamo de autoembriaguês. É isso que a filosofia permite que façamos. Ao invés de dizermos “Eu preciso beber para me soltar” a autoembriguês nos deixa pensar “Eu preciso reinventar o mundo para me soltar”.
Pelo fato de o dançar não ser uma pintura fixa como a que está aí em cima, ponho um vídeo que representa melhor esta musicalidade.
Referencia Imaem: Luthien, de Nasmith
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