“A grande verdade é que vocês chegaram tarde na literatura. Não tem mais o que inventar.”
Estas palavras ficaram gravadas na minha memória desde o dia em que as escutei. Foram ditas numa aula de Escrita Criativa. E o que é mais impressionante: foram expressas pelo próprio professor que nos orientava!
Não são poucos que compartilham essa ideia. Acreditam que o uso das palavras para contar novas histórias imaginadas, para construir edifícios poéticos, já deu para o gasto. A literatura, como arte que sempre permite desvendarmos novos caminhos, é coisa do passado.
Não concordo com esta visão. A música é mais antiga que a literatura. E mesmo assim temos o direito de dizer que nossa geração chegou demasiada tarde? Que não há mais combinações de notas e ritmos a se inventar?! Todos já foram explorados?
Em primeiro lugar, é preciso diferenciar assunto de tema em literatura. Assunto é, digamos assim, a visão aérea daquilo que o autor aborda: conflitos amorosos, a miséria, a escravidão, o modo como agimos subordinadamente em relação às nossas produções tecnológicas, enfim...
Por exemplo, tanto Michael Ende quanto Cornelia Funke abordam o mesmo assunto numa de suas obras: a forte relação entre o leitor e o livro. Nos dois romances A História Sem Fim (Ende) e Coração de Tinta (Funke) abordam o quanto a fantasia e o mundo real se misturam, através do prazer pela leitura. Agora, os temas – o modo como cada autor trata determinado assunto – dos dois livros são completamente diferentes. Enquanto que em História Sem Fim Bastian é transportado da realidade para Fantasia, em Coração de Tinta são as personagens dos livros que saltam para a realidade. Um é o inverso do outro; mas tratam do mesmo assunto.
Assuntos normalmente se repetem, mas a forma como são abordados (tema) é infinitamente diversa. Isso também diz muito com base na conhecida sentença “A obra do autor é o reflexo de sua época”. Toda a arte repousa sobre esta frase.
Dizer que não há mais o que inventar em literatura é o mesmo que dizer:
- Sinto muito... nós paramos no tempo.
Referencia imagem: Books in Winter (Jessie Willcox-Smith)
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