quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Duas técnicas para o início da escrita (Sobre Literatura)

Sobre a escrita

Minha proposta é apresentar duas técnicas que auxiliam escritores à vencer o tão temido bloqueio criativo, um vilão que faz as pessoas desistirem deste ramo belíssimo que é a literatura. Como toda a técnica, é algo que deve ser treinado. É, de certo modo, uma forma diferente de se relacionar com o texto; um exercício que tem exigido a mim mesmo grande esforço ao apanhar a caneta.
      Estas duas técnicas se referem à arte narrativa, independente de qual seja a modalidade: conto, novela, crônica, romance, etc. Vejamos então...

      (1) Liberdade na escrita – é comum cairmos por terra depois de escrever duas ou três páginas da nossa história e acharmos um lixo, ao ponto de abandonarmos aquela aventura. Parece tosca, sem graça. Ou até mesmo nem arriscamos  escrever sobre um assunto que outras pessoas podem não aprovar. Isso vai totalmente contra a liberdade que uma página em branco e uma caneta cheia de tinta nos proporciona.
      Ao escrever uma história, não importa no início se ela está ficando boa ou ruim; se as pessoas vão aprovar ou não. Precisamos ter sempre em mente a liberdade de escrever. De pensar constantemente – quando necessário – enquanto se escreve “Isso que eu escrevi está uma porcaria. Pois muito bem... esse foi o caminho que escolhi. O importante é continuar caminhando, independente do que virá”. É se aventurar nas profundezas da imaginação e trazer a história para a página. Raramente a história que escrevemos sai igual à história que imaginamos. Esta última parece muito mais viva, mais empolgante. Por quê? Por que ela é imaginada, fantasiada. A história escrita se expressa pela palavra. É outra linguagem. Por isso temos que ser livres no início para que ela se expresse à sua maneira. Caso contrário, ela jamais alcançará o mundo.  
      Ser livre na escrita é escrever uma primeira versão de forma ininterrupta. É na rapidez que vem a sinceridade. Como aconselhava Anton Tchekov “Escreva uma história de um só jorro...”.
     Contudo, essa liberdade nos angustia. Parece não ter cuidado com a história; ser desleixado. Mas pelo contrário! Mesmo depois de terminar a primeira versão, precisamos ser livres para poder refazer as partes que consideramos ruim. Mas, no início, a caneta deve dançar sobre o papel assim como dançamos sobre a pista de dança na noite. Não paramos para pensar; simplesmente sentimos a música tocar no corpo.
      E por falar em pensar e sentir...

     (2) Sentir a história – pensar na história antes de escrever (ou mesmo numa longa pausa) pode ser um obstáculo para seguir adiante. Quando digo “pensar a história” me refiro a intelectualizá-la. É, por exemplo, buscar o significado dos acontecimentos ao invés de se deter nos próprios acontecimentos. O que nos impulsiona a escrever deve ser, antes de tudo, a emoção que sentimos ao percorrer essa trajetória. É entrar na história, descrevendo e narrando tudo que estamos sentindo. Somos narradores que presenciam uma história no mesmo instante que a relatamos. E isso independente se a narração é em primeira ou terceira pessoa.
     Não há nada de errado em pensar a história. Isso de fato é importante. Mas no momento em que ela se antepõe ao sentir a história, podemos nos ver sem saída numa contradição de ideias.
    Se o que sentimos ao narrar é algo forte, ao ponto de continuarmos escrevendo, muito provavelmente o leitor sentirá algo forte a sua maneira, criando inspiração para continuar lendo.  

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